sábado, 3 de janeiro de 2009

Nem 8 nem 80

Findo uma ausência prolongada e que provalvemente se prolongará por mais uns tempos, achei por bem deleitar-vos com mais um laivo de ódio cultural: os Saldos.

Bom, antes de mais parece-me que há algo de perfeitamente óbvio no que diz respeito a esta fase negra da vida anual de todos nós, os Saldos são para quem não gosta das coisas boas. Os Saldos são para quem não gosta de roupa gira, de rádios novos, de livros por dobrar ou de cuecas por provar, porque claramente não sobra nada de jeito do período ridiculamente consumista que normalmente lhes antecede.

Os Saldos são para quem tem uma vontade de ferro, porque ao mesmo tempo que tudo o que está mais barato é feio, foleiro e resumidamente cócó, nas prateleiras imediatamente ao lado estão as novas colecções, os novos jogos, os novos livros e os bolos dentro do prazo. Aquelas para as quais os Tugas raramente conseguem ter dinheiro para comprar.

Os Saldos são por isso também uma altura em que os grandes predadores das compras saem à rua. Há filas para tudo, para provar, para pagar, para ver as montras... e não são filazinhas, são filas "à homem"! São filas que envergonham a da casa de banho das mulheres ou da compra do passe, são quilos de etceteras nos braços e malas mal amanhadas ao ombro e casacos pendurados no braço para suavizar o calor insuportável que teima em perdurar mesmo em pleno inverno.

E os olhares de ódio homicida? É como se o letreiro de -50% fosse uma espécie de Lua Cheia para as Donas de Casa Desesperadas: saltam para os molhos de t-shirts a 2€ feitas cheetas sobre gazelas em fuga, amontoam as mais foleiras parando apenas para olhar à volta e, caso alguma competição se aproxime das recusadas elas subitamente ganham novo brilho e são-lhes arrancadas das mãos. E se estamos na zona das novas colecções então é porque somos snobs, ricos, inúteis da sociedade e de certeza que somos do Sporting! Sim porque portuga que é portuga bebe sofregamente dos saldos como um bébé de uma mama!

Haveria provavelmente muito mais a dizer deste altura quiçá irritante do ano civil e fiscal ao mesmo tempo, mas doem-me as costas e as pernas e a cabeça... foi da tarde inteira nos saldos!